Zilah, como você sabe, quando da anistia eu estava clandestino no Paraná; acompanhei tudo pela imprensa e por alguns contatos em SP, Cláudio Abramo, Paulo de Tarso, Clauset, e outros companheiros e companheiras. É evidente que para mim tudo mudou com a anistia. Uma vez promulgada, comecei a preparar minha saída do país e minha "volta legal". Vocês podem imaginar a alegria e a angústia de esperar a anistia e vê-la tornar-se realidade. Depois da volta para o Brasil passei a freqüentar o escritório do Aírton Soares, onde funcionava o CBA e participei ativamente de toda luta pós anistia com você, o Perseu, o Alípio, a Suzana, o Luiz Eduardo e todos os demais companheiros e companheiras. Fiz questão de ter as tarefas do CBA como primeira atividade, como sinal de gratidão a todos que lutaram pela anistia, e pelo sentido quase religioso que dou à solidariedade que recebi de Cuba, dos que me ajudaram na clandestinidade e de vocês do CBA. Você pode imaginar o que significou para mim, que há 10 anos vivia na clandestinidade, sem nacionalidade, banido de minha pátria, isolado no Paraná havia 4 anos, pensar em rever meus pais, irmãos e irmãs, companheiros e amigos. Ao mesmo tempo, havia a tristeza de ter de deixar o Paraná, meu filho que acabara de nascer e toda vida que constitui com tantos, como a Clara, que foi minha companheira das horas amargas e difíceis. Quero destacar a importância do CBA e do trabalho de milhares de anônimos que lutaram para conquistar a anistia, figuras como Teothônio Vilela, o papel do Perseu, do Luiz Eduardo Greenhalgh, do Aírton Soares, a luta da Suzana Lisboa, que depois continuou e continua até hoje com os familiares dos mortos e desaparecidos, que até hoje esperam o esclarecimento e a responsabilização pelos crimes da repressão, para descansarem em paz. Sou grato a todos que lutaram pela Anistia e todos os dias procuro fazer, da melhor maneira, aquilo que me restou: continuar lutando pelos ideais dos que deram anos e anos de liberdade por um Brasil democrático e justo, sempre procurando honrar a memória dos que deram a vida por todos nós. Pela anistia.

 

*José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-preso político, banido, advogado; atualmente Deputado Federal – SP e presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores.

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