Minha participação na Campanha da Anistia dos anos 70 se deveu à continuidade de um trabalho político que se iniciou na minha juventude, quando participei da campanha da Anistia de 1945.

Minha participação na Campanha da Anistia dos anos 70 se deveu à continuidade de um trabalho político que se iniciou na minha juventude, quando participei da campanha da Anistia de 1945.

Na organização do Comitê Brasileiro de Anistia dos anos 70, o que me deixou a mais forte impressão foram as assembléias realizadas no Teatro Ruth Escobar, onde se reuniram todas as facções da esquerda com fortes divergências sobre a conjuntura política do momento. Naquela altura da vida nacional a ditadura ainda mantinha em vigor os seus órgãos de repressão. Não lembro bem quantas foram essas assembléias até chegar-se a um consenso, mas sei que foi através de um organograma incluindo como participantes as organizações existentes na sociedade, que elegemos uma comissão executiva com poderes para iniciar os primeiros trabalhos.

Sempre que as liberdades democráticas foram suspensas no país, houve necessidade de um movimento que envolvesse as forças políticas mais interessadas na liberdade e na democracia para que o Estado de Direito se recompusesse e, com ele, a livre manifestação do pensamento.

O Movimento dos Familiares dos Desaparecidos Políticos tinha como objetivo, em especial, ver esclarecido os casos de tantos brasileiros vitimados, sem que se soubesse como e quais os responsáveis por esses crimes. Para esses familiares, a Anistia corresponderia às suas aspirações.

A Campanha da Anistia foi o primeiro grito de alerta contra a opressão da Ditadura Militar que já infelicitava o país por vários anos. O povo brasileiro soube compreender e não faltou com seu entusiasmo em todo decorrer da campanha.

A consecução da Anistia, porém, não resolveu todas as nossas aspirações; pois, apesar de lutarmos por uma Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, a Lei de Anistia muito deixou a desejar, anistiando os torturadores em igualdade de condições com os torturados.

Até hoje, apesar da continuidade da luta dos familiares dos desaparecidos, nada foi esclarecido, como se estivéssemos diante de um crime perfeito.

No momento em que comemoramos os vinte anos da Lei de Anistia, o povo brasileiro está enfrentando uma luta desigual por aspirações muito antigas, como a Reforma Agrária, a luta contra o analfabetismo e melhores condições de vida e de trabalho.

 

*Maria Augusta de Oliveira Capistrano, fundadora e dirigente do CBA/SP; familiar de desaparecido político.

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