O escritor e cartunista bauruense Gilberto Maringoni está lançando neste mês, em todo País, seu quinto e mais expressivo livro: A Venezuela que se inventa: poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez.

A idéia de mostrar em um livro-reportagem a história da crise que explodiu durante o governo de Hugo Chávez, segundo Maringoni, começou depois de uma viagem ao país para a realização de uma matéria após o golpe de abril de 2002, em que o presidente Hugo Chávez foi deposto e, dois dias depois, voltou ao poder por pressão popular. “O livro é fruto de quatro viagens que fiz à Venezuela entre os anos de 2002 e 2003”, explica o escritor.

O livro faz um passeio pela história do país e conta um pouco dos últimos 20 anos da crise venezuelana. Maringoni explica que a base para compor as mais de 220 páginas foram pesquisas históricas cruzadas com entrevistas com líderes políticos do governo e da oposição e com o povo.

“Não quis fazer um livro sobre a Venezuela que eu vi, quis explicar por que uma liderança como o Chávez tem o seu papel na Venezuela. Eu quis contar toda essa história como se fosse um romance, é um livro que se lê com uma linguagem ágil, contando palavras do presidente, dos opositores e do povo. É um estudo gostoso e fácil de ler”, diz.

Segundo as pesquisas realizadas por Maringoni e expostas no livro, Hugo Chávez não é a causa da crise na Venezuela, e sim conseqüência de uma profunda crise que o país atravessa há muitos anos.

Para Gilberto Maringoni, a raiz dos problemas da Venezuela não começou no governo Chávez, mas há muito tempo. Em um país no qual 80% da população é considerada pobre, a crise se intensificou, segundo ele, no início dos anos 80, quando o preço do petróleo sofreu alteração e teve queda significativa.

“Nessa época, o país quebrou e a economia não se recuperou até hoje. Ao longo do século XX, tudo na Venezuela girou em torno do petróleo, e isso moldou a política no país. Nos anos 80, com a queda do preço do petróleo e o início da crise, a Venezuela teve dois presidentes que não conseguiram recuperar a política e só depois surgiu o Hugo Chávez, um tenente-coronel que foi eleito em 1998 com a principal concorrente dele sendo uma ex-miss universo”, conta.

Maringoni afirma que, para ele, o atual presidente venezuelano é uma resposta da sociedade ao desarranjo político no país.

“A impressão que passa ao vê-lo falar é que ele é um sujeito extremado. Mas quando é analisado, seu programa de governo é totalmente moderado, mais ainda que o do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva”, explica.

Segundo Maringoni, apesar da intensa crise o povo é partidário do presidente porque ele tem trazido soluções para a melhora social.

“A indústria venezuelana importa tudo, então, tudo é mais caro. O povo o apóia porque ele fez mercados populares, tem um programa de combate à fome muito eficiente, faz um programa de alfabetização importante. Ele fez um convênio com Cuba em que a Venezuela vende petróleo para eles com condições de pagamento e prazos longos. Em contrapartida, Cuba manda para o país médicos e técnicos que trabalham e moram em locais populares para trazer atendimentos emergenciais, com infra-estrutura de ambulatório. É um programa que tem seis meses, mas o impacto na população foi fantástico.”

Para o escritor, o problema da Venezuela é que a classe dominante que se beneficiou durante todo o século XX com a economia petrolífera não quer essas mudanças. “Toda a razão do conflito é quem vai mandar no petróleo, maior fonte de riqueza do país”, conclui.

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