Por Alexandre Pavan.

Mordendo os tubarões:
Bernardo Kucinski lança livro sobre a grande imprensa

De maneira corajosa e sem meias-palavras, o jornalista e professor Bernardo Kucinski expõe em seu novo livro as mazelas causadas pela grande imprensa brasileira, situacionista, dominada em quase sua totalidade por um grupo restrito de sete famílias – segundo o autor, a saber, as famílias Mesquita (O Estado de São Paulo); Frias (Grupo Folha); Sirotsky (RBS); Civita (Editora Abril); Marinho (Rede Globo); Nascimento Brito (Jornal do Brasil) e Saad (Rede Bandeirantes) – que compartilham um opinião comum, com mínimas variações pouco significativas, “desempenhando um papel mais ideológico do que informativo, mais voltado à disseminação de um consenso previamente acordado entre as elites em espaços reservados, e, em menor escala, à difusão de proposições de grupos de pressão empresariais”.

A síndrome da antena parabólica – ética no jornalismo brasileiro (Editora Fundação Perseu Abramo, 200 páginas – R$ 22,00) reúne uma série de ensaios do professor Kucinski que tratam não apenas dos grandes grupos de comunicação, mas também de personagens do jornalismo brasileiro, a exemplo de Paulo Francis, símbolo do jornalista difamatório, aquele que se aproveita dos problemas de matriz cultural da sociedade para desenvolver preconceitos latentes dos leitores e telespectadores. Essa é a tese de Bernardo Kucinski também sobre a cobertura da grande imprensa da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas três eleições para presidente.

O que fazer, então, se os jornais diários (TV, imprensa escrita ou rádio) não colocam em ação o mascado discurso de um jornalismo de “rabo preso com o leitor”, neutro e objetivo? Durante o lançamento nacional do livro A síndrome da antena parabólica, em São Paulo, foi promovido um debate sobre a influência da mídia na vida das pessoas e estiveram presentes, além do próprio autor, os jornalistas Gabriel Priolli e o Chico Malfitani.

A conversa destacou a valorização da imprensa alternativa como um caminho para a elevação da qualidade do trabalho jornalístico democrático e preocupado com a cidadania. Assim como mostra-se de forma cada vez mais clara a importância da educação e da formação pessoal (mais até que a informação) para uma leitura crítica de tudo o que é publicado.

Kucinski acredita que é possível que surja um veículo que possa concorrer com os grandes grupos de comunicação quando houver um mobilização popular, pessoas interessadas numa alternativa. As “ilhas” que hoje existem – sejam os programas de TVs comunitárias, sejam os pequenos jornais de formato tablóide – representam o aparecimento dessa alternativa simples, democrática e de interesse público.

Publicada no Jornal Correio Da Cidadania, ano III, nº118.
Semana de 21 a 28 de novembro de 98

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