Estes 20 anos de existência do PT representam, do ponto de vista da minha história política pessoal, uma tomada de consciência muito grande. Uma consciência política que vinha se constituindo e amadurecendo, desde mais de 20 anos atrás, quando vivia na periferia de uma cidade pequena, São Luiz Gonzaga, no interior do Rio Grande do Sul, na região das Missões. Embora interessado nas lutas sociais e sendo eu mesmo vítima das desigualdades sociais, como filho de um carpinteiro pobre, no interior, não passava, até então, de um reles militante bissexto desses movimentos.

 

Em 70, venho para Porto Alegre, com mala e cuia, e aqui entro na luta efetiva do movimento sindical, de minha categoria bancária. Quatro ou cinco anos depois, já na direção do Sindicato dos Bancários, foi o tempo de viver a luta contra a estrutura sindical corporativista, contra o peleguismo, pelo sindicato de base, pela organização nos locais de trabalho. No fim da década de 70, junta-se a esta a luta contra a ditadura, pelas liberdades democráticas, pela anistia.

Surge, de forma cada vez mais clara para mim e para o povo com quem convivia, aprendia e lutava, a importância de ter uma ferramenta para a luta política sob o controle dos sujeitos sociais que efetivamente querem mudanças e são capazes de visualizar um mundo diferente, de igualdade, sem exploração, sem preconceitos de caráter algum e baseado nos princípios do humanismo e da solidariedade.

No final da década de 70, venho a ser um dos fundadores do PT e o fato de ter estado integrado a um movimento que formulava um projeto nacional, com uma visão maior de luta social, representou um grande salto para minha consciência política. O PT, para mim, é um enorme aprendizado e uma ferramenta política de grande significado.

Penso que tenha este sentido também para milhares de homens e mulheres que percorreram o mesmo caminho e que estiveram presentes nas lutas do início da década de 80 pelas eleições diretas, pelo impeachment e pela Constituinte. Estas lutas enraizaram e espalharam pela sociedade um sentimento nascido da classe trabalhadora, dos movimentos sociais do campo e da cidade, que se corporificaram no PT. Se o partido tem condições de expressar tudo isto e avançar, esta é a grande questão. Penso que o PT tem enormes potencialidades pela forma como se construiu, pelo centro do que ele significa e pelas forças sociais que congrega e agrega.

Hoje, o quadro político é outro e nosso partido, sendo o maior da esquerda brasileira, tem muitas responsabilidades. O PT terá que saber compartilhar com as outras forças no campo popular democrático para enfrentar a avalanche neoliberal, que não representa futuro digno para a humanidade. Temos que ser capazes de nos constituir como força que reúne em torno de si, consciente e seriamente, outras forças sociais que possam ter, não apenas uma candidatura à Presidência, mas um programa para nosso país, nosso povo, afirmar-se como senhor de seu destino.

São 20 anos de existência de um partido que não pode negar as lutas sociais e socialistas que em gerações passadas foram se acumulando. Temos que ser caudatários deste grande movimento, capazes de avançar na qualidade desta luta.

Quando um partido como o PT comemora neste início de século e de milênio 20 anos de existência, sinto-me, humildemente, um aprendiz neste processo. Digo, com orgulho, que estive entre os poucos que no início ousaram construir este partido. Orgulha-me também ser, hoje, um dos milhares de militantes do PT pelo País afora e ser uma de suas figuras públicas, como governador do Rio Grande do Sul. Pela importância histórico-cultural e econômico-política desta unidade federativa mais meridional e latino-americana do Brasil, nosso governo tem uma importância estratégica muito grande. Sabemos disso e assumimos essa responsabilidade na sua integralidade, com paixão e alegria.

Para mim, os 20 anos de existência do PT são aquele tempo em que, na definição da Primavera, cantada por Jaime Caetano Braun "os moços ficam mais velhos e velhos ficam mais moços". Boa luta para todos nós.

* Olívio Dutra era, na época da fundação do PT, presidente do Sindicato dos Bancários (RS); hoje, é governador do Rio Grande do Sul.

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