A crise econômica internacional cria as condições para a construção de uma nova maioria política, no Brasil e no mundo, oposta ao modelo hegemônico neoliberal que predominou nos últimos 30 anos. Esse foi um dos pontos centrais da fala do economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea, durante debate promovido pelo Diretório Nacional do PT na noite de segunda-feira (9). Também participaram a ministra Dilma Rousseff e o secretário-geral da CUT, Quintino Severo.

“Até o início deste século, as decisões recomendadas (durante as crises) eram no sentido de aprofundar a recessão, aumentar as taxas de juros etc. Hoje quase nenhum país vem tomando essas decisões. Essa é uma mudança substancial a ser destacada. O Estado entrou novamente, foi conclamado pelas forças do mercado para intervir na crise. Há um ano não era assim. Estamos vivendo um quadro de deslocamento do centro dinâmico da economia”, afirmou Pochmann.

Para ele, a crise atinge a natureza do modo de produção capitalista e fragiliza o poder político defensor de medidas neoliberais. Essa mudança, na avaliação do economista, pode favorecer países como o Brasil, que, desde o início do governo Lula, vem produzindo políticas voltadas para o fortalecimento do Estado, os investimentos públicos e a distribuição de renda.

“A crise pode representar uma contaminação desse ciclo de expansão (…), mas o governo vem produzindo um conjunto de medidas inovadoras que buscam responder a crise fortalecendo os investimentos, o que abre a perspectiva de o Brasil ficar mais forte para enfrentar os sintomas da crise no futuro”.

Ele citou como exemplos dessas medidas a ampliação do crédito, a redução da taxa de juros, ampliação de investimentos e a manutenção da política de valorização do salário mínimo – o que, segundo Pochmann, seria impensável anos atrás, nos governos de orientação neoliberal.

Na opinião do presidente do Ipea, os próximos passos do governo deveriam ir no sentido de ampliar a oferta de crédito, principalmente aos pequenos produtores; mudar a estrutura tributária, para que os mais ricos paguem mais; e exigir maiores contrapartidas dos tomadores de recursos públicos.

Ele também acredita que a dimensão da crise exige ações conjuntas entre todos os poderes da República, e não apenas o Executivo federal. “A construção de uma nova maioria deve ser feita através do entendimento nacional, dentro do plano federativo. A crise só vai ser resolvida através de um pacto entre os poderes”, concluiu Pochmann.

Politização à direita

O envolvimento de outras instâncias de poder nos planos de combate à crise também foi defendido por Quintino Severo, secretário-geral da CUT. Ele ressaltou que Estados e municípios precisam seguir o exemplo do governo federal e estudar medidas que permitam a manutenção dos empregos.

Quintino criticou a tentativa de politização da crise por setores da imprensa e do empresariado. “De um lado, querem esticar a crise o máximo possível, de preferência até o ano que vem. De outro, aproveitam o momento para voltara a falar em reforma trabalhista, em retirada dos direitos dos trabalhadores e em redução de salários”.

Ele elencou as propostas da CUT para combater essa ofensiva: manutenção de emprego e renda; contrapartida social para empresas beneficiadas com recursos públicos; continuidade dos investimentos do PAC; redução do superávit primário; redução da taxa básica de juros; e redução do spread bancário.

Publicado no portal PT, em 10/02/2009
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