Melhor e pior em ser mulher – Entre as brasileiras, a avaliação de que “a situação das mulheres” está melhor, “em comparação com a vida uns 20 ou 30 anos atrás”, subiu de 65% para 74% entre 2001 e 2010.  Cerca de duas em cada três mulheres (63%) elencam espontaneamente razões referidas ao mundo público para definir “como é ser mulher hoje”, com destaque para maior liberdade e independência e para conquistas no mercado de trabalho; mas quase metade refere-se (também) aos papéis tradicionais de mãe-esposa e seus encargos (43%) .

Entre “as piores coisas de ser mulher” não houve alterações significativas, predominando em 2010, como em 2001, as referências à vida privada sobre as referências à vida pública (antes 61% a 33%, agora 55% a 32%). Para 11% das mulheres não há nada pior em ser mulher (antes 7%) .
 
Melhor e pior em ser homem – Gustavo Venturi destacou a percepção masculina sobre ser homem em relação às mulheres. Segunda a pesquisa, entre “as melhores coisas de ser homem”, os brasileiros destacam hoje atributos masculinos, sobretudo biológicos (37%), como não engravidar, não parir, não menstruar; ter maior liberdade e independência que as mulheres (33%) e mais oportunidades no mercado de trabalho (31%). Já no item “as piores coisas de ser homem” destacam. A despeito desses avanços, a responsabilidade “pela orientação e/ou execução dos
afazeres domésticos” continua fortemente concentrada nas mulheres (hoje 91%, antes 93%), sobretudo nas próprias entrevistadas (69% hoje, 72% antes) o peso do papel tradicional de gênero, de ser provedor ou cobrado por tal (26%). Mas para 37% não há nada pior em ser homem, em vez de mulher.
 
Machismo e feminismo –  Para 94% das mulheres e 90% dos homens existe machismo no Brasil, mas 1 em 4 homens se assumiram como machistas. Em relação ao feminismo, o quadro pode ser mais positivo, já que de e 2001 a 2010 aumentou de 21% para 31% o contingente de brasileiras que se consideram feministas (depois de reclassificadas as respostas das que se disseram feministas  mas claramente confundiam feminista com feminina – 13% em 2001 e 9% em 2010). Disseram não saber se são ou não feministas 18% (25% em 2001) .
 
Trabalho – Cerca de metade das mulheres (52%) está na População Economicamente Ativa (PEA), contra quatro em cada cinco homens (79%). De acordo com a amostragem da pesquisa, 2/3 das mulheres que são economicamente ativas estão no mercado informaĺ. Gustavo também destacou que as mulheres que nunca trabalharam ou deixaram o mercado de trabalho declararam que os motivos foram o casamento, filhos e dificuldade de conseguir emprego.  Embora majoritária, permaneceu estável entre 2001 e 2010 a preferência de pouco mais da metade das mulheres por “ter uma profissão, trabalhar fora de casa e dedicar-se menos às atividades com a casa e a família” (56% hoje, 55% antes), em vez de dedicar-se mais a estas“deixando a profissão e o trabalho fora de casa em segundo lugar” (37% hoje, 38% antes)
 
Chefia, administração e trabalho doméstico- A chefia da família é atribuída aos homens, 62% (co)indicaram algum homem (antes 66%), principalmente o cônjuge (46% hoje, 49% antes) dado que permanece estável em relação à pesquisa de 2001. Quanto à administração da renda,     mais da metade indica alguma mulher no domicílio como “principal responsável pela administração da renda familiar” (57%, antes 49%), sobretudo elas próprias (hoje 36%, antes 31%), superando os homens (hoje 42%, antes 50%), com destaque para os próprios cônjuges (31% hoje, antes 37%) . Trabalho doméstico é executado maioria das mulheres (em 2010 91%, antes 93%), sobretudo nas próprias entrevistadas (69%  em 2010 e 72% antes).
 
Tempo livre – Consideram-se totalmente satisfeitas “com a maneira como passam seu tempo livre” 57% das mulheres hoje (o mesmo que em 2001, 55%), contra 63% dos homens.

Aparência física – A aparência física, o corpo trazem mais preocupações para as mulheres do que para os homens.  70% dos entrevistados se declararam muito satisfeitos neste quesito, contra apenas 50% das mulheres hoje (54% em 2001). Entre a quase metade das mulheres (47%) que não está plenamente satisfeita com sua aparência, declaram-se espontaneamente descontentes com a barriga 15%, acima do peso 14% e com os seios, 7% .
 
A imagem da mulher – Há uma visão muito crítica das mulheres entrevistadas sobre a exibição dos corpos femininos na mídia, destacadamente na TV.  Quatro em cada cinco (80% hoje, 77% em 2001) acham ruim que “na televisão sempre tem programas com mulheres dançando com roupas curtas, mostrando bastante o corpo”, sobretudo por avaliar que isso “dá muita atenção só para o corpo e desvaloriza todas as mulheres” (51%, contra 56% antes).
Três em cada quatro brasileiras (74%) são favoráveis a “um maior controle da programação e da publicidade na TV”, dividindo-se entre as que acreditam que isso deve ser feito por autorregulamentação das TVs e agências de publicidade” (38%), as favoráveis a uma “maior fiscalização ou censura por parte do governo” (37%), e ainda as que prefeririam o controle “por um órgão ou conselho com pessoas da sociedade” (20%).
 
Vida sexual –  Consideram-se totalmente satisfeitas “com a maneira de viver sua sexualidade” 68% das mulheres hoje (61% em 2001), contra 80% dos homens.
Entre desejo (atração) e prática atual ou passada, apenas de 1% a 2% das mulheres e 2% dos homens afirmaram ter orientação homo ou bissexual.
Declaram que “na maior parte das vezes” quando tiveram relação sexual sentiram “muito prazer” 42% das mulheres (51% em 2001), e outras 42% dizem que acharam “gostoso” (antes 27%). A soma das que na maior parte das vezes tiveram relação “por obrigação”, “não sentiram nada” ou avaliam “que foi um sofrimento” caiu de 17% para 9%

Gravidez e anticoncepção  – Três em cada quatro brasileiras com 15 anos e mais engravidaram ao menos uma vez na vida. Em média tiveram 3,5 gravidezes. Uma em cada onze é virgem (9%). A maioria, seja das mulheres (67%) ou dos homens (59%), afirma não ter usado preservativo na última relação sexual. As principais razões alegadas para isso são a confiança no/a parceiro/a, a estabilidade da relação, o uso de outros contraceptivos e a falta de hábito.
 
Violência no parto – Entre as mulheres que tiveram filhos naturais (71% da amostra), a maioria fez parto(s) só na rede pública (68%), 16% na rede privada, 8% em ambas e 9% em casa ou outros locais. 15% das mulheres disseram ter  sofrido “algum desrespeito ou maltrato ao procurar assistência em maternidades ou em atendimento pré-natal.”
Em resposta a diferentes formas de violência institucional, no entanto, uma em cada quatro (25%) relatou ter sofrido, na hora do parto, ao menos uma entre 10 modalidades de violência sugeridas – com destaque para exame de toque doloroso (10%), negativa para alívio da dor (10%), não explicação para procedimentos adotados (9%), gritos de profissionais ao ser atendida (9%), negativa de atendimento (8%) e xingamentos ou humilhações (7%).
 
Aborto – Apenas 4%  das mulheres entrevistadas assumiram agora já ter tido ao menos um aborto provocado (6% em 2001), mas metade (50%) afirma que “conhece pessoalmente alguma mulher que já fez um aborto” e uma em cada cinco (21%) assume ter na família alguma mulher que provocou aborto, com destaque para irmãs (5%) e primas (5%)  Entre os motivos para abortar prevalecem as razões financeiras e falta de apoio do parceiro.
Entre os homens também 4% assumiram ter engravidado parceiras que abortaram;um em cada três (33%) afirma que “conhece pessoalmente” e 10% assumem ter na família alguma mulher que provocou um aborto.
 
Legislação sobre o aborto – De 2001 a 2010 dobrou de 36% para 72% a taxa das mulheres que sabem que o aborto legal no país “depende do caso” – o conhecimento da legalidade do aborto decorrente de estupro passou de 25% para 50%. Apenas 13% acreditam que o aborto não é permitido em nenhum caso (antes 53%). E a maioria das mulheres e dos homens  (59% cada) avalia que as igrejas estão certas “ao tentarem controlar as leis sobre o aborto”.
 
Violência –  Assim como na pesquisa de 2001, os dados sobre a violência sofrida pelas mulheres são alarmantes, considerando a frequencia e a variedade de agressões físicas e psicológicas. Como em 2001, cerca de uma em cada cinco mulheres hoje (18%, antes 19%) consideram já ter sofrido alguma vez “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”.
Além de ameaças de surra (13%), uma em cada dez mulheres (10%) já foi de fato espancada ao menos uma vez na vida (respectivamente 12% e 11% em 2001). Considerando-se a última vez em que essas ocorrências teriam se dado e o contingente de mulheres representadas em ambos levantamentos, o número de brasileiras espancadas permanece altíssimo, mas diminuiu de uma a cada 15 segundos para uma em cada 24 segundos – ou de 8 para 5 mulheres espancadas a cada 2 minutos.
Com exceção das modalidades de violência sexual e de assédio – nas quais patrões, desconhecidos e parentes como tios, padrastos ou outros contribuíram – em todas as demais modalidades de violência o parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos reportados.
Entre os homens, um em cada dez (10%) diz espontaneamente ter sofrido violência de alguma mulher (excluída a mãe). E diante de 11 modalidades de violência citadas, quase a metade (44%) já teria sofrido alguma, sobretudo algum tipo de controle ou cerceamento (35%), mas também alguma ameaça ou violência física (21%), com destaque para os que levaram tapas e apertões (14%).
 
Fidelidade e autonomia  –Tanto mulheres agredidas como homens agressores confessos apontam como principais razões para que episódios de violência de gênero ocorressem em seus relacionamentos algum mote referido a controle de fidelidade (46% e 50%, respectivamente). As mulheres destacam ainda (23%) predisposição psicológica negativa dos parceiros (alcoolismo, desequilíbrio etc.) e busca de autonomia (19%), não respeitada ou não admitida pelos mesmos. Os homens alegam também que foram agredidos primeiro (25%)

 

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