No dia 31 de março de 1964 não aconteceu nada no campus da Universidade de Brasília. Professores e estudantes, bombardeados por notícias desencontradas e incoerentes, trataram de organizar o mínimo de sobrevivência: alguns víveres, um precário sistema de comunicação, a tentativa de entrar em contato com outros grupos, já a essa altura se liqüefazendo ao calor dos boatos radiofônicos. Nos dias seguintes, o campus foi varrido pelos rumores de que alguns professores seriam presos e pela notícia de que havia sido dissolvida a comissão diretora da Universidade. E eis que na manhã de 9 de abril, enquanto no Palácio do Planalto se editava o Ato Institucional nº 1, professores e estudantes que assistiam às Aulas Maiores na UnB (eram dadas das 7 às 9 horas) viram centenas de soldados armados aproximarem-se e cercarem o campus em toda a sua extensão. Era uma brigada da Polícia Militar de Minas Gerais realizando talvez uma das mais completas operações bélicas do movimento político-militar de 1964: não faltaram carros de assalto, caminhões de transportes de tropa, ônibus para condução de prisioneiros e ambulâncias; barracas, postos de comando e instalações de radiotelefonia; os soldados estavam armados com fuzis e metralhadoras, havia, também, metralhadoras pesadas assentadas sobre tripés que se fincavam no chão vermelho do planalto goiano; mapas e binóculos completavam a operação de cerco, invasão e conquista do campus da Universidade de Brasília. As tropas ocuparam os prédios da Reitoria, prenderam uma vintena de professores e estudantes, conduziram-nos ao Teatro Nacional, aí os entregaram ao Exército, que os levou depois para os quartéis; nas semanas seguintes, as tropas mineiras continuaram ocupando o campus em "estado de sítio". Fecharam a biblioteca, vasculharam dependências escolares e pessoais à procura de armas e material subversivo.

O que acontecera com a Universidade de Brasília era um símbolo premonitório que, estranhamente, muitos educadores e professores de outras universidades do país se recusaram a compreender no momento adequado e, quando mais tarde vieram a senti-lo, não mais como símbolo, mas como realidade na própria carne, já então era muito tarde.

 

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