Mal foi amanhecendo no subúrbio
as paredes gritaram: anistia
Rápidos trens chamando os operários
em suas portas cruéis também gritavam:
anistia, anistia.

Os bondes vinham cheios. Tabuletas
já não diziam Muda, Méier, Barcas.
Uma palavra só, neles gravada:
anistia

Os jornaleiros brandem um papel
de dez metros de alto por cinqüenta.
Nesse cartaz imenso, em tinta rubra:
anistia

Mal foi amanhecendo no subúrbio
as paredes gritaram: anistia
Rápidos trens chamando os operários
em suas portas cruéis também gritavam:
anistia, anistia.

Os bondes vinham cheios. Tabuletas
já não diziam Muda, Méier, Barcas.
Uma palavra só, neles gravada:
anistia

Os jornaleiros brandem um papel
de dez metros de alto por cinqüenta.
Nesse cartaz imenso, em tinta rubra:
anistia

As lojas já pararam de vender
Os vidros, os balcões, se rebelando,
beijam teu nome, roçam tua imagem,
anistia

Se olho para as rosas: anistia
Para os bueiros da City, para os céus,
para os montes em pé nas altas núvens:
anistia

Anistia nos becos, nos quartéis,
nas mesas burocráticas, nos fornos,
na luz, na solidão:
só anistia.

E bate um sino. Um remo corta a onda.
Alguém corre na praia. Estes sinais
querem dizer apenas, sem disfarce:
anistia, anistia

A sorte corre hoje, último número.
Compro o bilhete, para decifrá-lo
não preciso de códigos. Avise-me:
anistia

Anistia: teu nome se dispersa
no vento de Ipanema e do Leblon,
para se condensar, sopro terníssimo,
sobre todas as coisas: anistia.

Esta é a voz dos mortos sob o mármore,
é a voz dos vivos no batente. Ouço
mil bocas em silêncio murmurando:
anistia

Vem, pois, ó liberdade, com teu fogo
e tua rosa rebelde nos cabelos,
vem trazer os irmãos para o sol puro
e incendiar de amor os brasileiros

 

*Publicada no livro Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas

`