Os 100 anos de nascimento de Lélia Abramo foram comemorados ontem (08/02) numa reunião de amigos, familiares e colegas de trabalho e de militância no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo. Idealizada pelo ator Tadeu di Pietro, a homenagem foi realizada pela Funarte, com apoio da Fundação Perseu Abramo, e contou com leituras de poesias de Maiakovski, de trechos do livro autobiográfico de Lélia, exibição de cenas das inúmeras atuações de Lélia e apresentações musicais e teatrais. Ana de Hollanda, ministra da Cultura e amiga pessoal de Lélia, falou sobre sua convivência com a atriz e destacou a coerência e ética que permearam a existência da amiga.

Os amigos que se sucederam no microfone garantiram que Lélia não gostava de festa de aniversário, mas quem sabe ela pudesse aceitar aquele encontro reunindo amigos, familiares e antigos colegas de trabalho. Depoimentos sobre o seu jeito de ser se sucederam no Teatro de Arena, o mesmo teatro no qual a atriz estreou sob a direção de Renato José Pécora (Zé Renato), na peça "Eles não usam Black Tie" de Gianfrancesco Guarnieri. Pécora, presente ao encontro, relembra a cena e som que ficaram para sempre em sua memória: no silêncio, Lélia sentada à mesa, escolhia feijão para a próxima refeição e derrubava os grãos numa panela. 

Para os amigos de Lélia, se por um lado era séria, brava, mal humorada e rígida, por outro lado, era solidária, inconformada com todo tipo de injustiça e demonstrava sempre sua indignação e inconformismo com as pessoas que sofriam. O poeta Pedro Tierra disse pensar em Lélia como um personagem do século XX e que ela trouxe consigo a agonia e a paixão, características desse século. Os relatos da família de Lélia foram lidas pela sobrinha Silvana Abramo e mostra a visão que tinham sobre a tia, a de uma mulher corajosa, aguerrida, de fortes princípios morais e políticos.

Os momentos mais marcantes da vida de Lélia foram relembrados nas leituras que as atrizes Luiza Jorge, Aidê do Amaral e Maria Yuma fizeram de trechos do livro autobiográfico de Lélia "Vida e Arte – memórias de Lélia Abramo", selecionados por Tadeu di Pietro. No primeiro trecho, lido por Luiza Jorge, Lélia falava sobre o retorno ao Brasil depois de 12 anos vivendo na Itália e as relações com a família;  no segundo, lido por Aidê do Amaral, ela retratava a vida na Itália e a situação  dos partidos políticos e da esquerda naquele país; e no terceiro, lido por Maria Yuma, a vivência no teatro, o teleteatro, a chegada de novos equipamentos como o videotape e as condições de trabalho dos atores.

Foram lidas poesias por  Alessandro Azevedo, Sérgio Mamberti e Roberto Ascar. Coube ao Núcleo Studio 184 a tarefa de encenar o texto “Rosa Vermelha" e ao Coral Luther King a apresentação da peça "Bella Ciao".

 

Veja aqui as fotos do ato pelo centenário de Lélia

Sobre Lélia:

"Ela tinha o sentimento do mundo" – Chico de Assis

"Ela se preocupava com os operários, com pessoas desconhecidas" – Ana de Hollanda

"É preciso, vamos!" – Lélia Abramo

"Ela me ensinou o sentido da palavra Revolução". – Sérgio Mamberti

"Construir o difícil hoje, com ganas de um amanhã possível sem esquecer as lições do passado. Esse é o legado de Lélia Abramo." – Tadeu di Pietro

 

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