Seminário realizado em Salvador no dia 14/8, reuniu representantes do Partido dos Trabalhadores e do Partido Comunista da China (PCCh). Esta é a quinta edição da série de seminários para troca de experiências acordado pelos dois partidos em 2004 e iniciado em 2008.

Na terceira mesa do seminário teórico Partido dos Trabalhadores-Partido Comunista da China (PCCh), sobre a crise financeira internacional, o PCCh apresentou o painel “Práticas e êxitos da China para enfrentar a crise financeira internacional”. O expositor, Wang Yulin, é subdiretor geral de América Latina e Caribe do Departamento Internacional do PCCh. O PT apresentou o painel “Ações e êxitos do Brasil para enfrentar a crise financeira internacional”, e teve como expositor Fernando Nogueira da Costa, economista e professor do Instituto de Economia da Unicamp.

China: país cresce em meio à crise internacional

Wang Yulin  enfatizou que a crise financeira vivida desde o quarto trimestre de 2008 é a mais grave depois da grande depressão da década de 1930. Enfrentar a crise com eficácia é tarefa conjunta de todos os países do planeta e um desafio para nações em desenvolvimento como China e Brasil .

Na avaliação do PCCh, a crise se expandiu de forma rápida e intensa e seu impacto foi muito forte. Ela decorre, segundo Yulin, “das políticas macro-econômicas inadequadas dos países capitalistas desenvolvidos, da falta de regulamentação e de fiscalização dos governos, da expansão excessiva da economia virtual, e, em especial, da insustentabilidade do modelo de crescimento dependente de consumo com passivos de longo prazo”.

Na visão do PCCh, apesar dos impactos da crise internacional, a China dispõe de capacidade de continuar a manter estável e rápido o desenvolvimento econômico por um longo prazo. Isso decorre, segundo Yulin, da base material sólida acumulada no rápido desenvolvimento econômico dos últimos 30 anos, da abertura ao exterior e da força motriz interna resultante do rápido avanço da industrialização e da urbanização, da otimização e atualização da estrutura industrial, do progresso tecnológico e de inovação, entre outros.

Entre as políticas e medidas que o governo chinês adotou para enfrentar a crise, Yulin destacou: aumentar os gastos públicos para expandir a demanda doméstica; implementar em grande escala os planejamentos de ajuste e rejuvenescimento do parque industrial; promover reformas nas áreas essenciais (reforma do sistema de finanças públicas, do sistema financeiro e das empresas estatais etc.); promover de forma vigorosa o progresso e a inovação tecnológica; aumentar de forma significativa o nível de segurança social.

Entre os exitos alcançados pela China ao enfrentar a crise internacional, Yulin destacou o resultado econômico-financeiro traduzido no crescimento  do PIB e em outros indicadores. Em 2010 e 2011 a economia chinesa cresceu 10,4% e 9,2%, o volume de importação e exportação cresceu 34,7% e 22,5% e a receita fiscal cresceu 21,3% e 24,8%, respectivamente.

Yulin também ressaltou que as ações para enfrentar a crise apontaram para  deficiências que seu país precisa corrigir. Ele citou a grande quantidade de projetos de infra-estrutura abertos ao mesmo tempo, o aprofundamente da  especulação imobiliária, o impacto sobre as pequenas e médias empresas e a reforma dos setores onde há monopólios.

Brasil: Estado está no centro do financiamento do desenvolvimento

O professor Fernando Nogueira da Costa falou sobre o quadro de estabilização do país, com medidas adotadas já nos dois primeiros mandatos do presidente Luis Inácio Lula da Silva e também no de Dilma Russeff, bem como sobre as formas de financiamento dos investimentos. Segundo Costa, o Brasil está promovendo mudanças econômicas num momento de crise internacional, com um nível de desemprego dos mais baixos dos últimos anos, e com crescimento dos rendimentos reais e das vagas de trabalho. Mesmo no pior ano da recessão, manteve-se o crescimento do consumo das famílias, mas o investimento, que estava em ascensão, caiu brutalmente. O Brasil sofreu com a crise; reagiu em 2010 e em 2011, o patamar já estava na média.

Costa resumiu o círculo virtuoso da mudança da política econômica para fazer frente à nova conjuntura: queda da taxa de juros, depreciação da moeda nacional, diminuição dos encargos  financeiros do pagamento de juros, queda na relação dívida X PIB,  diminuição do déficit nominal, manutenção do supervit primário, alavancagem do dinheiro público, ganho fiscal, o retorno desses investimentos pelos bancos, maior capacidade produtiva com financiamento em investimento, crescimento da demanda sem crescimento da inflação, e aumento do PIB.

Segundo Costa, o grande debate presente no país é sobre como financiar o investimento e quais devem ser financiados. “No Brasil, a expectativa de investimento 2012-2015 é de 600 bilhões de reais, voltados para as áreas de energia, portos, investimentos para a Copa e o PAC, e infra-estrutura” concluiu. A economia brasileira após 2015 se transformará na economia do petróleo – investimento em novas tecnologias, e em sua prospecção em aguas profundas (o pré-sal). O país passará a ser exportador de petróleo.

Para Costa, um dos fatores mais importantes que os quatro países emergentes que formam o BRIC – Brasil, Russia, China e India – é a forte participação das instituições financeiras públicas no total da carteira de crédito: a China, com mais de 90%; a Índia, com mais de 70%; a Russia, com mais de 50%; e o Brasil, com 45% (enquanto os bancos privados, nacionais e estrangeiros, ficam na faixa de 38% e 16,9%)”.

No caso brasileiro, Costa enfatizou que os bancos públicos são os responsáveis por quase 90% do financiamento do investimento. Segundo ele, em 2009, nos créditos com mais de 5 anos o  BNDES respondia por 67%, a Caixa, por 11,6% e o Banco do Brasil, por 8,4%.

Costa também enfatizou o papel dos fundos de pensão no financiamento dos investimentos e que eles fazem parte do que chama de “capitalismo de Estado neocorporativista” — uma forma de intermediação entre a sociedade civil e o Estado. Nesse modelo, afirmou, o Estado é interventor, indutor e regulador da economia de mercado, o que propicia saltos de etapas no desenvolvimento histórico. O Brasil, segundo Costa, é um país muito novo, não comparável à China – que tem história milenar -, mas conseguiu dar um salto de crescimento que o elevou à sexta maior economia do mundo. No final da década, deve se tornar a quinta e em 2027 deverá ser a quarta. Para chegar a essa posição, o economista acredita que o Brasil precisa vencer os desafios de conquistar maior autonomia tecnológica e financeira.

Entre as medidas mais recentes, Costa destacou que houve reestatização de empresas (ex. Vale e Petrobras) por meio dos fundos de pensão e do BNDESPar. Houve, ainda, a aprovação do fundo de previdência dos funcionarios publicos, que deve ser o maior fundo de pensão do país nos próximos anos. O Estado brasileiro trocou o controle majoritário por associações em minoritários, mas com participação no conselho de administração da empresas. É um quadripé entre o Estado (empresas estatais), capital privado, capital estrangeiro e capital de origem trabalhista (fundos de pensão).

“O Estado brasileiro está no centro das principais decisões na área de financiamento do desenvolvimento”, conclui Fernando Nogueira da Costa.

 

Leia também:

. Sobre o seminário teórico China/Brasil

Seminário teórico China/Brasil: iniciativas para a construção de sociedades menos desiguais

Seminário teórico China/Brasil: sistema de gestão social e de políticas públicas

. De Fernando Nogueira da Costa

– o artigo História bancária em movimento, publicado na revista Teoria e Debate

Atualizado em 21/8/2012, às 18:00

`